Thursday, 26 November 2009

Encontro debate impacto socioambiental da mineradora Vale S/A em Minas Gerais

por Robson Braga*
Fonte: Adital - 26-Nov-2009

As comunidades do Estado de Minas Gerais - no Sudeste brasileiro - diretamente afetadas pela atividade mineradora realizam, no próximo sábado (28), na capital Belo Horizonte, o "1º Encontro Mineiro dos Atingidos pela Vale". Os participantes vão debater e pensar medidas contrárias ao impacto socioambiental gerado pela empresa Vale S/A, segunda maior mineradora do mundo e maior empresa privada do Brasil. O encontro ocorre das 8h às 12h, na sede do Sind-Rede/BH (Av. Amazonas, 491, sala 1009, Centro). Os atingidos pela atividade mineradora da Vale vão debater os resultados socioambientais do trabalho da empresa: as desapropriações forçadas de comunidades; a terceirização, com perdas dos direitos trabalhistas; os acidentes de trabalho; a contaminação e o rebaixamento do lençol freático; e a perda da biodiversidade.

Para eles, o governo federal deve anular o leilão, considerado ilegal, que privatizou a empresa em 1997. O grupo pede a reestatização de empresa, hoje presente nos cinco continentes do mundo.

Em nota, o Comitê Mineiro dos Atingidos pela Vale criticou a campanha publicitária da empresa, que, só nos últimos 12 meses, gastou R$178,8 milhões em propagandas que enfatizam um suposto desenvolvimento econômico dos municípios onde atua, a geração de emprego e sua responsabilidade social. "O que a realidade comprova é a acentuação de conflitos sociais, econômicos e ambientais que modificam a qualidade de vida das pessoas", rebateu o comitê.

O grupo ainda alerta para a possibilidade de mineração na Serra da Gandarela, região que contribui com o abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte. A Vale aguarda resposta sobre um pedido de licenciamento ambiental para atuar na região.

A Vale S/A atua em 12 Estados brasileiros, detendo o direito de lavra de um território de 23 milhões de hectares. Apesar de seu lucro ter passado de US$8 bilhões em 1997, quando foi privatizada, para US$125 bilhões atualmente, a empresa demitiu cerca de quatro mil trabalhadores diretos e 15 mil terceirizados entre 2008 a 2009, alegando a crise econômica mundial.

Embora consuma, sozinha, cerca de 5% de toda a energia elétrica nacional, a empresa paga apenas R$3,30 por 100Kwh/mês, enquanto que a população brasileira paga R$50 pela mesma quantidade de energia.

O Comitê Mineiro dos Atingidos pela Vale é formado pelas Brigadas Populares, Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Assembleia Popular São Francisco, Movimento pelas Serras e Águas de Minas, e Entidade Nacional dos Estudantes de Biologia (ENE-Bio).

A Vale em Minas Gerais

A cidade de Itabira, a 104km de Belo Horizonte, "é hoje uma fotografia na parede", lamenta o padre Antônio Claret, membro do Movimento dos Atingidos Por Barragens (MAB) de Minas Gerais. Foi ali onde surgiu, em 1942, a companhia Vale do Rio Doce, que, após privatização, em 1997, tornou-se a Vale S/A.

"Itabira atingiu um nível de poluição maior que a cidade de São Paulo", cidade do Sudeste brasileiro repleta de indústrias e automóveis, enfatizou Claret. Segundo ele, "hoje todas as áreas de mineração de Minas Gerais estão sob o domínio da Vale ou têm alguma interferência dela. Você privatiza o subsolo sem saber exatamente o que tem nele", criticou Claret.

O membro do MAB cita impactos causados pela Vale no Estado. O Rio Doce, por exemplo, sofre a ação das barragens de Candonga, na Zona da Mata, e de Aimorés, no leste de Minas. A construção da barragem de Condonga obrigou, em 2004, a realocação das 105 famílias do extinto distrito de Soberbo, de 280 hectares, para uma região próxima, então denominada de Nova Soberbo.

"As casas são boas, mas eles perderam seu meio de sobrevivência, porque eles trabalhavam com a pesca, a extração artesanal de ouro ou como autônomos na região. Eles tinham quintais muito grandes, onde podiam plantar, criar animais, e agora estão assentados em três hectares", diz o padre. Além dos problemas econômicos, uma grande ironia: a comunidade sofre, até hoje, sérios problemas de água, "conseqüências da barragem", afirma Claret.

* Jornalista da Adital

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