Friday, 11 September 2009

Agnelli tenta aproximar Vale do governo em visita a Lula

por Claudia Safatle e Paulo de Tarso Lyra
Valor Econômico - 11/09/2009



A reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Vale, Roger Agnelli, terça-feira, serviu para a empresa começar a aparar as enormes arestas criadas junto ao governo, por suas ações consideradas precipitadas durante a crise financeira global e, também, pela resistência da empresa em investir na área siderúrgica, que é uma antiga demanda de Lula.

O relato do encontro, feito por fontes oficiais, é bastante lacônico: a reunião foi boa e o presidente Lula teria ficado satisfeito com as informações repassadas por Agnelli, disse um dos participantes. Essas mesmas fontes negaram que esteja em curso uma ação do governo para substituir Agnelli no comando da Vale e alegaram que, na reunião, não se tratou de questões tipicamente privadas, como a possível venda das ações da Bradespar na Vale para o empresário Eike Batista. Ele teria feito uma de R$ 9 bilhões, que teria sido recusada pelo Bradesco. O comentário de um ministro ao Valor foi de que não caberia ao governo opinar sobre essa negociação. "Também não sei o que mudaria caso Eike conseguisse comprar a parte do Bradesco", disse.

A insatisfação de Lula com a mineradora tem razões diversas. O presidente acha que a empresa não pode só "abrir buracos, extrair o minério de ferro e exportar". Ela deve agregar valor e, para isso, não é de hoje que Lula insiste para que a companhia construa usinas siderúrgicas no Pará, no Espírito Santo, no Ceará e no Rio de Janeiro.

A reação da Vale, de demitir 1,3 mil funcionários em dezembro de 2008, no auge da crise financeira global, foi muito mal vista pelo governo que estava, naquele momento, criando medidas para garantir a atividade industrial e os empregos. Para fontes oficiais, a reação da companhia, que também cancelou investimentos, foi precipitada, desnecessária e o governo tomou conhecimento da notícia pelos jornais. Um ministro, ontem, lembrou que apesar de ser uma empresa privada, a maior parte do capital acionário da Vale está nas mãos de fundos de pensão estatais, com a Previ à frente, e do BNDES. Os demais sócios são o Bradespar e o grupo japonês Mitsui. "O principal acionista da Vale é o governo", sublinhou essa fonte, deixando um alerta: "o Agnelli foi eleito com o voto de todos os sócios e não apenas do Bradesco".

A importação de US$ 350 milhões em bens de capital e a compra de 12 navios graneleiros de US$ 130 milhões cada um, ambos da China, também causou irritação ao Planalto. O presidente Lula tem como política que demandas dessa natureza devem privilegiar primeiramente a indústria nacional. As queixas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval (Sinaval) chegaram à reunião de agosto do Grupo de Acompanhamento da Crise (GAC), coordenado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. A Vale, na ocasião, reagiu às reclamações e disse que o presidente do Sinaval havia recebido propostas da mineradora para a compra de navios construídos no país e nem dera resposta.

O argumento da Vale de que não pode expandir seus negócios no setor de aço para não fazer concorrência com seus próprios clientes, também não conseguiu convencer o governo federal. "Existe uma série de outros mercados nos quais a empresa pode entrar, sem que isto signifique concorrência desleal com seus compradores", defendeu uma outra fonte graduada. Também estavam na reunião de terça-feira o ministro da Fazenda e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

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