Não somos canadenses de segunda classe
Por Darren Cove
Presidente
Sindicato United Steelworkers, Seção Local 9508
Este mês, as províncias de Newfoundland e Labrador — e centenas de nossas famílias trabalhadoras — receberam uma dúbia distinção canadense, resultado da agenda anti-sindical agressiva e sem precedentes de uma empresa estrangeira.
A greve no setor de mineração em Voisey’s Bay, provocada verão passado pela gigante Vale, sediada no Brasil, entrou em seu segundo ano no domingo, dia 1º de agosto. A greve se torna assim o conflito trabalhista de maior duração em toda a história de um século de operações canadenses da mineradora Inco, adquirida pela Vale em 2006.
Talvez o fator mais perturbador seja o fato desta disputa estar sendo prolongada pelo tratamento de segunda classe dado pela Vale aos trabalhadores de Newfoundland e Labrador em comparação com funcionários da Vale em outras províncias do Canadá.
O nosso sindicato, o United Steelworkers Local 9508, já se ofereceu para concluir a greve em Voisey’s Bay com base em sua aceitação do mesmo acordo a que a Vale chegou mês passado com seus funcionários da província de Ontario. Mas a Vale esta tentando ditar aos trabalhadores de nossa província — incluindo muitos funcionários indígenas — que aceitem um contrato inferior, com abonos e benefícios menores em comparação com o acordo a que se chegou em Ontario.
Ficamos ofendidos com o fato de que uma empresa estrangeira como a Vale trata os trabalhadores de Newfoundland e Labrador como canadenses de segunda classe. Nós levamos à atenção do primeiro-ministro provincial Danny Williams a conduta perniciosa da Vale, e respeitosamente pedimos a ele e a seu governo que ajudem-nos a resolver essa situação insustentável.
Há mais de um ano, nossos 130 membros e suas famílias resistem corajosamente aos ataques da Vale sobre sua renda e padrões de trabalho. Para nós é insultante e repreensível que a Vale dite que 130 trabalhadores em nossa província devam aceitar um sistema de abonos e acordo coletivo inferiores àqueles oferecidos aos 3.000 trabalhadores de Ontario.
Entretanto, a Vale continua a agir com impunidade na implantação de sua agenda, inclusive com seu uso de fura-greves, o que corrói o processo de negociação coletiva e comprovadamente cria conflitos trabalhistas mais longos e amargos.
Com seus vastos recursos e poder, e uma tradição de impor a sua vontade impiedosamente aos trabalhadores de países em desenvolvimento, a Vale tem demonstrado pouco interesse em chegar a um acordo em Voisey’s Bay em que ambas as partes cedessem. A Vale parece estar disposta a prolongar a greve até que os trabalhadores de Newfoundland e Labrador aceitem um status de segunda classe.
Também fica claro que a posição da Vale não se baseia em constrangimentos econômicos de qualquer natureza. A Vale se manteve imensamente lucrativa durante a recessão global, e suas próprias projeções sinalizam lucros ainda maiores no futuro próximo. A Vale virá a faturar bilhões explorando os recursos naturais de nossa província em Voisey’s Bay — uma das jazidas minerais mais ricas de seu tipo em todo o mundo.
A Vale insiste que não quer eliminar ou quebrar o nosso sindicato. Se for verdade, por que então ela está adotando uma abordagem tão truculenta? Por que ela está ditando que os trabalhadores de Newfoundland e Labrador, que seus funcionários indígenas, devem aceitar um sistema de abonos e contrato de trabalho inferiores aos dos trabalhadores de Ontario?
Com a nossa greve agora em seu segundo ano, a Vale não demonstra sinais de que abandonará sua conduta arrogante e “linha-dura” com relação aos trabalhadores de nossa província.
O povo e o governo de Newfoundland e Labrador deram à Vale o privilégio de lucrar maciçamente explorando as riquezas minerais de nossa província. Em troca, essa empresa estrangeira parece crer que pode ditar ao nosso povo trabalhador e suas comunidades que eles receberão tratamento de segunda classe a uma fatia menor da riqueza que geramos.
Alegra-nos a perspectiva de trabalhar com o Primeiro Ministro Williams e nosso governo para garantir que a Vale trate as famílias trabalhadoras de Newfoundland e Labrador com a igualdade de respeito e dignidade que merecemos.
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