Monday, 2 August 2010

Mensagem dos trabalhadores da Vale no Canadá (ainda em greve!)

Não somos canadenses de segunda classe


Por Darren Cove

Presidente

Sindicato United Steelworkers, Seção Local 9508


Este mês, as províncias de Newfoundland e Labrador — e centenas de nossas famílias trabalhadoras — receberam uma dúbia distinção canadense, resultado da agenda anti-sindical agressiva e sem precedentes de uma empresa estrangeira.


A greve no setor de mineração em Voisey’s Bay, provocada verão passado pela gigante Vale, sediada no Brasil, entrou em seu segundo ano no domingo, dia 1º de agosto. A greve se torna assim o conflito trabalhista de maior duração em toda a história de um século de operações canadenses da mineradora Inco, adquirida pela Vale em 2006.


Talvez o fator mais perturbador seja o fato desta disputa estar sendo prolongada pelo tratamento de segunda classe dado pela Vale aos trabalhadores de Newfoundland e Labrador em comparação com funcionários da Vale em outras províncias do Canadá.


O nosso sindicato, o United Steelworkers Local 9508, já se ofereceu para concluir a greve em Voisey’s Bay com base em sua aceitação do mesmo acordo a que a Vale chegou mês passado com seus funcionários da província de Ontario. Mas a Vale esta tentando ditar aos trabalhadores de nossa província — incluindo muitos funcionários indígenas — que aceitem um contrato inferior, com abonos e benefícios menores em comparação com o acordo a que se chegou em Ontario.


Ficamos ofendidos com o fato de que uma empresa estrangeira como a Vale trata os trabalhadores de Newfoundland e Labrador como canadenses de segunda classe. Nós levamos à atenção do primeiro-ministro provincial Danny Williams a conduta perniciosa da Vale, e respeitosamente pedimos a ele e a seu governo que ajudem-nos a resolver essa situação insustentável.


Há mais de um ano, nossos 130 membros e suas famílias resistem corajosamente aos ataques da Vale sobre sua renda e padrões de trabalho. Para nós é insultante e repreensível que a Vale dite que 130 trabalhadores em nossa província devam aceitar um sistema de abonos e acordo coletivo inferiores àqueles oferecidos aos 3.000 trabalhadores de Ontario.


Entretanto, a Vale continua a agir com impunidade na implantação de sua agenda, inclusive com seu uso de fura-greves, o que corrói o processo de negociação coletiva e comprovadamente cria conflitos trabalhistas mais longos e amargos.


Com seus vastos recursos e poder, e uma tradição de impor a sua vontade impiedosamente aos trabalhadores de países em desenvolvimento, a Vale tem demonstrado pouco interesse em chegar a um acordo em Voisey’s Bay em que ambas as partes cedessem. A Vale parece estar disposta a prolongar a greve até que os trabalhadores de Newfoundland e Labrador aceitem um status de segunda classe.


Também fica claro que a posição da Vale não se baseia em constrangimentos econômicos de qualquer natureza. A Vale se manteve imensamente lucrativa durante a recessão global, e suas próprias projeções sinalizam lucros ainda maiores no futuro próximo. A Vale virá a faturar bilhões explorando os recursos naturais de nossa província em Voisey’s Bay — uma das jazidas minerais mais ricas de seu tipo em todo o mundo.


A Vale insiste que não quer eliminar ou quebrar o nosso sindicato. Se for verdade, por que então ela está adotando uma abordagem tão truculenta? Por que ela está ditando que os trabalhadores de Newfoundland e Labrador, que seus funcionários indígenas, devem aceitar um sistema de abonos e contrato de trabalho inferiores aos dos trabalhadores de Ontario?


Com a nossa greve agora em seu segundo ano, a Vale não demonstra sinais de que abandonará sua conduta arrogante e “linha-dura” com relação aos trabalhadores de nossa província.


O povo e o governo de Newfoundland e Labrador deram à Vale o privilégio de lucrar maciçamente explorando as riquezas minerais de nossa província. Em troca, essa empresa estrangeira parece crer que pode ditar ao nosso povo trabalhador e suas comunidades que eles receberão tratamento de segunda classe a uma fatia menor da riqueza que geramos.


Alegra-nos a perspectiva de trabalhar com o Primeiro Ministro Williams e nosso governo para garantir que a Vale trate as famílias trabalhadoras de Newfoundland e Labrador com a igualdade de respeito e dignidade que merecemos.

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