Tuesday 26 May 2009

Crise lança dúvida em projeto da Vale defendido por Lula


Queda no preço do aço compromete construção de usina siderúrgica no Pará, anunciada pela companhia em 2008. P
rojeto envolve US$ 3,3 bi em investimentos; para o governo, siderúrgica é importante por agregar valor a ferro extraído no PA


A pisada no freio da Vale em seu plano de investimentos, anunciada na semana passada, aumenta as dúvidas sobre um dos projetos da empresa que mais atraem o interesse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a construção de uma siderúrgica no Pará.

A queda no preço do aço, de 30% desde o início da crise, enterrou as chances de viabilidade econômica da usina, afirmam especialistas.

Se o projeto já tinha uma margem baixa quando o preço do aço estava nas alturas, agora, com o atual valor, deixa de ser viável. E o preço projetado para o futuro também está longe de viabilizar a usina.

A expectativa de analistas é que o preço do aço só se recupere no ano que vem, com alta de 5% - insuficiente para retomar o patamar pré-crise.

Embora a siderúrgica esteja prevista para a vizinhança de uma das melhores reservas de minério de ferro do mundo -Carajás-, o fornecimento de alguns insumos seria complicado pela falta de logística, o que encareceria o aço.

A construção da siderúrgica no Pará havia sido anunciada pelo presidente da companhia, Roger Agnelli, no ano passado.

Os investimentos previstos eram de US$ 3,3 bilhões. Naquele mês de agosto, os preços do minério e do aço eram recordes, e a Vale vinha desenvolvendo uma estratégia de participar de siderúrgicas em parceria com grandes clientes, mas como minoritária.

Para anunciar o projeto do Pará, a Vale, diferentemente do que costumava fazer, não esperou fechar parceria com nenhuma siderúrgica.

Há duas semanas, em reunião com a governadora do Pará, Ana Júlia, e Agnelli, Lula voltou a tocar no assunto siderúrgica. Disse a Agnelli que era “importante agregar valor ao ferro extraído no Estado”.

Questionada sobre o andamento do projeto, a Vale informou que “está mantida a estratégia de longo prazo de atrair novos projetos siderúrgicos para o país para fortalecer o setor siderúrgico nacional e, consequentemente, aumentar a venda de minério de ferro”.

Ronaldo

A Vale veiculou na China, na semana passada, um anúncio com o jogador Ronaldo vestindo a camisa da seleção. As informações são do site britânico SBB (Steel Business Briefing), que cobre siderurgia.

No anúncio, a empresa diz que o Brasil apoiou o desenvolvimento da China nas últimas três décadas. A campanha é classificada pelo SBB como “ofensiva de charme” da Vale.

A campanha também prevê a publicação de anúncio no jornal “Diário do Povo”, descrito pelo SBB como “os olhos e ouvidos do governo chinês”.

O SBB observa que as relações da Vale com as siderúrgicas chinesas se deterioraram desde setembro, quando a mineradora, aproveitando o aquecimento do mercado, tentou arrancar um reajuste de 13% no preço do minério.

A exigência contraria uma prática do setor, segundo a qual o minério só era reajustado uma vez por ano. Em fevereiro de 2008, a Vale já havia reajustado o preço em 65%.

Mas agora, com a crise, a Vale se esforça para segurar o preço do minério. Hoje, vende com desconto de 20%.

“Os chineses querem derrubar em 30%”, diz o analista de mineração Gilberto Cardoso, do Banif Securities.

“A China é nosso maior cliente e, como todas as demais mineradoras globais, temos uma política de posicionamento de imagem naquele mercado”, informou a Vale sobre o anúncio.

(Fonte: Folha de S.Paulo/SAMANTHA LIMA/DA SUCURSAL DO RIO)

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