Thursday 13 August 2009

Perguntas e respostas sobre a Greve no Canadá


Fonte: USW - Fair Deal Now!
27 de Julho de 2009


Por que o contrato foi estendido de 1º de junho até 12 de julho?


Resposta – A Comissão de Negociação concordou com a extensão na esperança de que a Vale-Inco de fato negociaria um acordo mutuamente aceitável, ao invés de simplesmente continuar a exigir grandes concessões de nossa parte. Infelizmente, isto não aconteceu. Eis por que os membros do sindicato rejeitaram a proposta e agora estamos em greve.


A proposta da Vale (com grandes retrocessos) afetaria a comunidade negativamente?


R – Sim. Os efeitos de um acordo nesses moldes seria devastador para as comunidades locais. A renda familiar dos trabalhadores sindicalizados tem tido um papel central na construção e estabilidade de nossas comunidades. Há décadas, os rendimentos de nossos sócios e pensionistas apóiam as obras de caridade, os grupos cívicos e religiosos, além de constituir a espinha dorsal de nossas pequenas empresas.

Nossa economia local como um todo sofreria um forte impacto se fosse privada da renda de nível de classe média dos mineiros e metalúrgicos.


A Vale é uma empresa lucrativa?


R – Sim. A Vale é uma multinacional altamente lucrativa. Ano passado, a Vale lucrou US$ 13,2 bilhões (já descontados os impostos). Como ela tem dado muito lucro ano após ano, ela está muito líquida no momento. A Vale tem ativos de liquidez imediata no valor de US$ 22 bilhões (valores de 31/3/2009).


As operações canadenses da Vale têm sido lucrativas?


R – Sim. A Vale tem sido altamente lucrativa em seus 2 anos no Canadá. Só na Província de Ontario, ela lucrou duas vezes mais nesse período que a Inco lucrou nos 10 anos anteriores.

O lucro da Vale na Província de Ontario foi de US$ 4,1 bilhões entre 2006 e 2008. A Inco lucrou US$ 2,2 bilhões em Ontario nos 10 anos anteriores.


Vivemos tempos difíceis em termos econômicos. Será esta a razão para a Vale-Inco exigir essas grandes concessões dos trabalhadores?


R – Achamos que os fatos desmentem essa versão. As concessões que eles insistem que façamos não afetam a situação atual. A principal é o ataque ao abono do níquel. Esse ataque é justamente o oposto ao que se faria normalmente num contexto de dificuldades econômicas.

O abono do níquel é um mecanismo inovador criado pela Inco e o USW que em épocas de crescimento distribui parte dos ganhos para os trabalhadores e em épocas de retração protege a empresa. O fato da Vale estar atacando logo este benefício (que atualmente não está rendendo nada) demonstra que ela não se motiva pela atual situação econômica.


Se o abono do níquel atualmente está zerado, então por que a Vale faz dele o núcleo de suas exigências?


R – A primeira resposta é: “Pergunta pra ela!”

Mas a resposta mais óbvia é que a posição “linha-dura” desta empresa extremamente lucrativa sempre teve pouco a ver com a situação econômica atual. Trata-se de reestruturar sua relação com os trabalhadores de forma que estes (e, consequentemente, suas comunidades) não venham a participar significativamente dos benefícios quando bons tempos voltarem.


Já que a Vale tem essa linha dura quanto aos salários e benefícios dos trabalhadores, seus executivos também estão fazendo sacrifícios?


R – Não. Os seis executivos de alto escalão da Vale juntos ganharam US$ 33 milhões em 2008. [Obs.: A Vale não desagrega a remuneração dos executivos e CEO.]


Durante esses tempos difíceis, os executivos da Vale estão tendo que apertar o cinto?


R – Não. Os executivos estão ganhando muito bem, obrigado. Eles recebem “salário fixo” e “remuneração variável”, além de benefícios e ações (ordinárias e preferenciais). Entre 2006 e 2008, sua remuneração subiu 121%. É isso mesmo, 121% em dois anos.


Por que o governo canadense permitiu que uma multinacional estrangeira comprasse nossos recursos naturais? A Vale violou algum de seus compromissos?


R – O governo do Partido Conservador permitiu que nossos recursos fossem para mãos brasileiras por dois motivos. Primeiro, porque supostamente haveria um benefício líquido para o Canadá. Segundo, porque embora nem todos os detalhes tenham sido trazidos a público, houve uma série de promessas feitas pela Vale com relação ao primeiro triênio, entre elas que não haveria demissões.

Nós achamos que ela deveria ter mantido essas promessas. E está difícil a gente encontrar o tal “benefício líquido” para o Canadá, se ela pretende arrochar o seu quadro de trabalhadores desta maneira. A Vale começou a reestruturação antes do final do triênio e o resultado são demissões de trabalhadores tanto sindicalizados quanto não-sindicalizados. Além disso, ela suspendeu todas as operações de Sudbury em junho e julho.


Quando a Vale adquiriu a Inco, chamando o negócio de “compra dos sonhos”, e fez essas promessas ao governo canadense, ela sabia que o contrato incluía um plano de pensão com benefícios definidos e que tinha o abono do níquel como um elemento central?

R – Sim. A Vale sabia de todos os compromissos do acordo coletivo e do longo histórico de trabalho entre a Inco e o USW com vistas à estabilidade trabalhista e ao fortalecimento da comunidade local.


A posição da Vale-Inco na mesa de negociações mudou desde 7 de abril?

R – Absolutamente não. A exigência dessas grandes concessões de nossa parte sempre esteve lá. Na realidade, não houve uma negociação real. O que houve foi que eles simplesmente exigiram concessões sem parar, ao passo que todas as propostas do sindicato foram simplesmente negadas e postas de lado, tamanha a intransigência da empresa.


O sindicato se ofereceu para trabalhar com a Vale-Inco na redução de custos?

R – Sim. A Inco e o USW, antes da aquisição pela Vale, fizeram bastante disso. Isso já funcionou bem, com uma equipe conjunta que observava as operações e como eram conduzidas. Trabalhando conjuntamente e envolvendo quem de fato faz a empresa andar, isto é, os trabalhadores, muitas idéias surgiram e muitas economias foram feitas. Na negociação, sugerimos retomar essa prática, mas a sugestão foi negada e as concessões simplesmente exigidas.


O USW está trabalhando com outros sindicatos que atuam na Vale?

R – Sim. O USW já recebeu apoios incríveis de trabalhadores e sindicatos de muitos países dos quais a Vale extrai recursos pelo mundo afora. Os trabalhadores do Brasil já expressaram sua solidariedade porque já tiveram a experiência da dura luta para conseguir um salário justo pelo trabalho na Vale.

No Reino Unido, o sindicato Unite the Union (a maior do país) tem sócios que trabalham em operações da Vale. O USW e o Unite the Union fizeram uma aliança oficial, formando o primeiro sindicato global: “Workers Uniting” [Link: http://www.usw.ca/program/content/overview_sub.php?modules2_ID=685&modules_ID=685⊂=685&lan=en]


O que devem pensar de tudo isso os integrantes da comunidade que não são sindicalizados?

Cada pessoa que mora ou trabalha em Sudbury, Port Colborne e Voisey’s Bay deveria reconhecer que o bem-estar e a viabilidade econômica de sua comunidade está sob ameaça. A questão não é se a Vale-Inco sobreviverá a esta recessão. Os lucros dela respondem a essa pergunta. A verdadeira questão é: quando acabarmos por sair desta recessão, nossas comunidades poderão contar com aquela renda familiar de nível de classe média, tão crucial para a economia local?

Para o Canadá, a questão é se nossos recursos naturais, e os empregos difíceis e perigosos envolvidos em sua extração, podem oferecer a essas famílias trabalhadoras uma remuneração confiável e um bom padrão de vida.

É simplesmente errado que empresas estrangeiras extraiam recursos canadenses e realizem lucros tão substanciais, sem prover uma renda segura a famílias e comunidades onde tanto se trabalha.

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