Wednesday 29 April 2009

Quanto ainda teremos que aguentar? Seminário da campanha Justiça nos Trilhos em Buriticupu

Buriticupu-MA, 25 de Abril de 2009.

Chegando em Buriticupu (oeste do Maranhão, Brasil profundo, ao longo da estrada de ferro Carajás) percebe-se no ar a situação de caos, poluição, violência instalada. A cidade é conhecida pelas revoltas dos madeireiros contra o Ibama, os bloqueios da BR 222, o fogo ateado na delegacia e numerosos outros conflitos.“Quanto ainda teremos que aguentar?” é a pergunta que fica na boca de muitas lideranças conscientes e inconformadas com essa situação.
A campanha Justiça nos Trilhos escolheu a cidade como um foco de ação ao longo de 2009, tentando aportar assessoria, capacitação popular, intercâmbio com outras regiões ao longo dos trilhos.
O impacto da Vale na região de Buriticupu se dá de duas formas: a primeira, mais evidente e barulhenta, deve-se à passagem dos trens. Quando o escoamento de minério funciona a pleno regime, 24 trens com 330 vagões passam a cada dia em frente ao povo. Atravessam vilarejos, dividem em duas partes os povoados, provocam atropelamentos (um morto a cada mês ao longo dos trilhos), racham as paredes de casa.
Ao dizer do povo, até o grave problema do assoreamento do rio Pindaré deve-se também à construção dos trilhos, que desmanchou a estrutura geológica inicial, modificou em parte o curso do rio e encheu de lama varias regiões por ele atravessadas. Pode-se imaginar que o projeto de duplicação dos trilhos duplicará todos esses impactos sobre a população.a segunda forma de impacto é mais silenciosa, passa despercebida: a cada dia, em frente às barracas do povo e cruzando as carreteiras enlameadas (única forma de comunicação para muitos povoados), passa minério da Vale por um valor de aproximadamente 50 milhões de R$! Com que poder de sedução ou ilusão coletiva pode-se silenciar um contraste tão violento e injusto?

O povo de Buriticupu não é somente vítima, mas também capaz de articulação e luta. Formou um Fórum de Políticas Públicas que há anos discute alternativas socioeconômicas para o município e região.No mês de Abril de 2009 o Fórum convocou um seminário sobre “Questão agrária e Meio Ambiente”; Justiça nos Trilhos, convidada ao seminário, acompanhou os numerosos conflitos entre o povo, os latifundiários e o Incra. Ao enfrentar junto aos participantes os conflitos mais ligados à Vale, Justiça nos Trilhos apresentou a proposta do Najup (Núcleo de Assessoria Jurídica Popular) Negro Cosme, de São Luís.
O projeto “Trilhando Cidadania”, do Najup Negro Cosme, entende estimular a comunidade na busca da efetivação de seus direitos frente à Vale. Com uma sessão de sete encontros em Buriticupu, pretende-se fortalecer o papel de agentes multiplicadores na construção da cidadania, pressionando o Poder Público na implantação e melhoria de suas políticas e despertar a comunidade a respeito da responsabilidade social das empresas que trabalham e seus territórios e com seus recursos.
A interação do saber acadêmico com o conhecimento popular pode permitir uma síntese articulada de respostas e uma maior organização da sociedade civil. Os módulos serão realizados em formato de oficinas baseadas na educação popular, com recursos áudios-visuais, dinâmicas de grupo, trabalhos envolvendo artes, teatro de fantoches, teatro do oprimido, painéis, exposições dialogadas e debates. Os temas propostos serão: Mobilização Política, Modelos de Sociedade, Modelos de Desenvolvimento, Grandes Projetos, Meio Ambiente, Geração de Renda e Trabalho, Instrumentos Jurídicos.

Justiça nos Trilhos e o Najup selam assim uma aliança com as bases populares ao longo da Estrada de Ferro Carajás, para alimentar e estruturar a resistência e a promoção de novos modelos de desenvolvimento.

1 comment:

  1. Olá

    Eu gostaria de mais informações sobre este curso, para divulgar em nosso blogue.
    Atenciosamente,

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